
Aumento dos ataques virtuais e a digitalização acelerada do setor foram mote de debate em evento promovido pela Acrefi
Com o aumento expressivo dos ataques cibernéticos, a cibersegurança passou a figurar entre as principais prioridades do mercado de crédito. O tema foi abordado no RoadShow da Acrefi, realizado nesta terça-feira (15), em Florianópolis, sob o mote “O futuro do crédito”. Um dos painéis do evento, intitulado “Cibersegurança no mercado de crédito: protegendo dados e transações”, reuniu especialistas para discutir o cenário atual e os desafios do setor. A mediação ficou a cargo de Filipe Pena, diretor executivo da Associação, que destacou que “o avanço da digitalização dos serviços financeiros e a chegada de soluções como tokenização, Open Finance e o Real Digital trouxeram novas camadas de complexidade à proteção de dados e transações”.
O Brasil segue entre os países mais visados pelos criminosos virtuais. Segundo a Check Point Research, foram registradas 356 bilhões de tentativas de ataques cibernéticos em 2024. Só no terceiro trimestre, o número cresceu 95% em relação ao mesmo período de 2023. A média semanal de ataques por organização também saltou de 747 para 2.766 – o maior volume já registrado desde o início da série histórica, em 2021. A pesquisa ainda aponta um aumento de 67% nos ciberataques no segundo trimestre de 2024, reforçando a América Latina como alvo prioritário dos hackers, com alta de 53% na região.
“Estamos vendo ataques cada vez mais frequentes e sofisticados. A digitalização acelerou esse processo e expôs vulnerabilidades, especialmente em ambientes com menor interação humana direta”, destaca Evandro Ribeiro, CISO na Avivatech. “O risco de vazamento de dados, ransomware e sequestro de contas é real. Muitas vezes, as fintechs demoram mais do que o ideal para detectar uma invasão, o que pode gerar prejuízos significativos e danos à reputação”, completa.
Mesmo com leve redução em relação ao ano anterior, o ransomware segue como uma das ameaças mais preocupantes. De acordo com a Check Point Research, mais de 1.200 incidentes se tornaram públicos em 2024. A América do Norte concentrou 57% dos casos, seguida pela Europa (24%) e Ásia-Pacífico (13%). A América Latina representou 4% dos registros. Entre os setores mais atingidos globalmente estão manufatura (30%), saúde (13%) e varejo/atacado (10%).
Com sistemas cada vez mais integrados, qualquer falha de segurança pode comprometer a operação de toda a cadeia. Por isso, os especialistas reforçaram a importância de incorporar uma cultura de cibersegurança dentro das organizações, com atenção redobrada aos processos internos e à capacitação das equipes.
Para Mauro Melo, presidente da Credlink, a proteção de dados deve ser encarada com um olhar mais humano. “Dados são pessoas. Cada informação representa uma identidade, uma história. Quando uma instituição valida um cliente, ela não está apenas evitando uma fraude – está cuidando de alguém. A LGPD trouxe um marco importante, mas é essencial conscientizar os consumidores de que eles também têm um papel ativo nesse processo”. Segundo ele, o uso de tecnologias como IA e análise automatizada de crédito precisa ser acompanhado de uma abordagem equilibrada: “O mundo digital veio para somar, mas não pode substituir o olhar atento. Corremos o risco de perder a capacidade de realmente conhecer o cliente. A tecnologia precisa ser aliada – não um obstáculo”.
A expectativa é que o uso responsável da IA, somado a investimentos consistentes em segurança cibernética, ajude a redefinir os padrões de proteção no setor financeiro. “Segurança digital não é apenas uma demanda técnica. É um compromisso com a confiança que os clientes depositam nas instituições. E construir esse ambiente seguro exige colaboração entre empresas, pessoas e tecnologias”, conclui Filipe Pena.
Patrícia Nascimento 11940761719 [email protected]